A necessidade de incremento de utilização da água residual tratada foi uma das conclusões do webinar “SMAS de Sintra – 75 anos ao serviço de Sintra – No Caminho da Água”, que decorreu na passada segunda-feira, dia 28 de março, com a participação dos presidentes da Águas do Tejo Atlântico (AdT), Alexandra Serra; da Associação Portuguesa de Distribuição e Drenagem de Águas (APDA), Rui Godinho; e da Agência Portuguesa do Ambiente (APA), Nuno Lacasta.

A iniciativa insere-se nas comemorações do 75.º aniversário dos SMAS de Sintra, mas visa, igualmente, assinalar o Dia Mundial da Água (22 de março), data instituída pelas Nações Unidas para alertar e sensibilizar as populações para a imperiosa necessidade de preservação e poupança deste recurso natural e que, este ano, ganhou uma importância crescente em função do período de seca severa e extrema que o país atravessa.

A redução de água não faturada e o incremento da utilização de água residual tratada foram duas apostas enunciadas pelo Diretor Delegado dos SMAS de Sintra, Carlos Vieira, na abertura do webinar, onde revelou ainda o objetivo do município de Sintra de avançar com um projeto de investigação para estudo dos processos de dessalinização, tendo em vista a construção de uma central no concelho, com capacidade de produção, por dia, de 7.500 m³.

Se a aposta de redução de água não faturada passa por atingir os 15% até 2025, os SMAS de Sintra querem dar passos consistentes no sentido do incremento da Água para Reutilização (ApR), onde, aliás, foram inovadores ao arrancar em 2005 com o Projeto EcoÁgua, que visa a reutilização de águas residuais tratadas para fins múltiplos. “Desde 2005 e até ao final de 2021, o volume total de ApR utilizada na exploração das ETAR municipais de Sintra e usos urbanos foi de 3.132.873 m³”, adiantou Carlos Vieira. “Nas nossas 17 ETAR (Estações de Tratamento de Águas Residuais), reutilizamos 5,6% das águas residuais tratadas”, sintetizou.

Este responsável enunciou, ainda, que os SMAS de Sintra aguardam com expetativa os resultados do projeto de reutilização de Água+(reciclada não potável) na rega dos espaços verdes do Parque das Nações, que foi apresentado no próprio Dia Mundial da Água, pela AdT. Uma expetativa extensível ao primeiro projeto de ApR no setor agrícola, que vai ter lugar em Loures e Frielas.

Eng.ª Alexandra Serra – Presidente da AdT

Para Alexandra Serra, por seu turno, o projeto a desenvolver no Parque das Nações será “um exemplo muito inspirador e onde vamos aprender muito sobre aquilo que são, por um lado, as exigências de segurança do uso de água reutilizada”, um dos fatores que tem contribuído para travar a reutilização de águas residuais tratadas.

“É preciso alterar mentalidades e efetuar um trabalho de sensibilização junto da sociedade e das autoridades da Administração Pública do que temos de fazer para assegurar a segurança do abastecimento”, frisou a presidente da AdT, que realçou que este projeto conta com “um sistema de monitorização altamente fiável e robusto que vai permitir, no dia que houver um problema, determinar que o problema não foi da água reutilizada”.

Para além do projeto em curso em Lisboa, “a AdT está a trabalhar com Loures e Mafra e queremos muito trabalhar com todos os municípios da região que servimos, para dar um salto em termos de quantidade da água reutilizada para fins compatíveis, porque estamos certos que este é um dos caminhos da sustentabilidade para as cidades do futuro”.

Eng.º Rui Godinho – Presidente da APDA

Também Rui Godinho sublinhou a importância do incremento da reutilização da água residual tratada. “A reutilização de água residual, hoje ainda ínfima, deverá ser uma prioridade, como uma das medidas que urge implementar sem descontinuidades, inserida no combate à escassez de água, agravada pelas alterações climáticas”, salientou Rui Godinho. Este responsável, que já foi vice-presidente da Câmara Municipal de Lisboa, alertou mesmo para “a necessidade de continuidade das políticas públicas a propósito da reutilização das águas residuais”. O presidente da APDA recordou que “as ETAR da cidade de Lisboa estão preparadas, desde os anos 90, para reutilizar 20% da água tratada, dispondo de tratamentos terciários”, mas os primeiros projetos pilotos implementados não tiveram continuidade. “Espero que este projeto (da AdT) e outras iniciativas ganhem, definitivamente, massa crítica para que se tornem irreversíveis e com elevado nível de eficácia e eficiência”, concluiu.

Dr. Nuno Lacasta – Presidente da APA

O presidente da APA reconheceu que, em relação à reutilização de águas residuais tratadas, “o nosso país tem de acelerar o passo nos próximos anos”. “Os valores de Portugal são baixíssimos, na casa de 1%, quando em Espanha chegam quase aos 20%”, salientou Nuno Lacasta, que atribuiu a estagnação neste processo a dificuldades em “conciliar o tema da análise de risco à proteção da saúde humana”. Segundo este responsável do Ministério do Ambiente, “estamos a fazer um caminho” nesta área e, para além do projeto da AdT, mais oito licenças vão ser atribuídas, com destaque para o Algarve que “vai aumentar de 1 para 8 o volume de reutilização de água ainda este ano”. Mas, reconheceu o presidente da APA em jeito de conclusão, “não faz sentido nenhum” utilizar água potável em rega de espaços verdes e lavagem de espaços públicos.

Atualizado a 01/04/2022