BURNETT, William (The Cork Convent – 1834)

Lenda da Tentação de Frei Honório no Convento dos Capuchos

Lendas de Sintra – Versão 1

Da curiosa Relação do Castelo da Serra de Sintra, transcrevemos o presente trecho que nos fala da tentação do diabo ao virtuoso Frei Honório:

Saindo do convento de (Santa Cruz ou da Cortiça) para a parte de baixo do Carril, que vai dar ao penedo, em distância de tiro de espingarda, se venera uma cruz, que fez com o dedo em uma pedra tosca o venerável Frei Honório de Santa Maria, aparecendo-lhe o demónio para impedir e confessar uma pecadora, com a qual o fez desaparecer; e havendo vários incêndios na serra, assim que chegava o fogo a este lugar, se extinguia, ficando ileso desde a cruz até à cova da cerca onde habitava.

Vista Atual do Convento
Lendas de Sintra – Versão 2

Um dos habitantes do convento de Santa Cruz ou dos Capuchos, foi Frei Honório, homem de muita fé e de grandes virtudes. Muito estimado e respeitado dos habitantes daquelas redondezas, ali viveu durante trinta anos, sofrendo dolorosa e resignada penitência. Seu corpo jaz na Igreja daquele curioso convento.

Diz-se que certa vez, Frei Honório encontrou pelos campos uma linda rapariga, “para quem não olhou”, mas que o forçou a fazer alto.

Diz-se que certa vez, Frei Honório encontrou pelos campos uma linda rapariga, “para quem não olhou”, mas que o forçou a fazer alto. Exigia-lhe que a confessasse. O virtuoso monge, naquele ermo não tinha confessionário, e sem querer fixar a pequena, mandou-a para o convento em procura de outro confessor.

A bela da moçoila não se conformou com a resposta e insistiu ao mesmo tempo com o bom religioso. Rubro como um tomate, s suar em bica – isto passou-se em Agosto – apressou o passo, sempre seguido daquela que lhe pedia absolvição ou penitência, até que, voltando-se e tapando o rosto com uma das mãos para fugir à formosura que o diabo incarnara para o tentar e perder, com a outra fez o sinal da cruz, a que a endiabrada e tentadora, respondeu com um grito, fugindo para não mais ser vista.

(Santa Cruz ou da Cortiça) para a parte de baixo do Carril, que vai dar ao penedo, em distância de tiro de espingarda, se venera uma cruz, que fez com o dedo em uma pedra tosca o venerável Frei Honório de Santa Maria, aparecendo-lhe o demónio para impedir e confessar uma pecadora, com a qual o fez desaparecer; e havendo vários incêndios na serra, assim que chegava o fogo a este lugar, se extinguia, ficando ileso desde a cruz até à cova da cerca onde habitava.

Incêndio na Serra de Sintra

6 de setembro de 1966

Sensivelmente por volta do meio-dia, eclode aquele que viria a tornar-se no maior incêndio florestal de que há registo na serra de Sintra.

O “grande fogo da serra de Sintra”, como ficou eternizado, irrompe na Quinta da Penha Longa e adquire rapidamente dimensões incontroláveis, favorecido pelas elevadas temperaturas e constantes mudanças de vento forte.

Em poucas horas, Sintra tornou-se numa vila refém. Toda esta região ficou “…envolta numa enorme nuvem de fumo – negro e espesso – visível a vários quilómetros de distância. À noite, as chamas iluminavam a Serra. Chegavam constantemente mais Corporações. As sirenes eram como gritos da noite!” (in Diário de Noticias, de 10 de setembro de 1966).

Apesar da adversidade extrema, da incipiência e escassez dos meios disponíveis, inexistência de apoio aéreo e de sistema de telecomunicações, os nossos bombeiros e militares defenderam, à exaustão, o património edificado de Sintra, impedindo de forma decisiva que o incêndio atingisse maiores proporções do que os 50 km2. de área arborizada devastada pelas chamas.

Grande parte da Serra perdeu o seu encanto ao ver-se convertida num cenário dantesco, autêntico horizonte negro. Os Parques da Pena e de Monserrate foram salvos mas, lamentavelmente, a Tapada do Mouco foi praticamente consumida pelas chamas.

Todavia, é no Pico do Monge que acontece a maior tragédia com que este incêndio nos marca a memória: a perda de 25 vidas humanas. Como se pode ler em várias placas de homenagem em torno do local Mina da Água, tudo aconteceu na noite do dia 7 de setembro, no momento em que o fogo atingia o seu auge, um grupo de militares do R.A.A.F que operava no local, foi surpreendido e cercado pelas chamas.

 Nesse local onde, na tarde do dia seguinte, 8 de setembro de 1966, dois engenheiros encontraram os corpos sem vida, foi erigido um monumento em sua homenagem e 25 ciprestes erguem-se em sua memória.

Muitas foram as tragédias humanas ligadas a incêndios florestais, ocorridas em Portugal desde 1966. Porém, a vivida na serra de Sintra permanece como uma das mais dolorosas e dramáticas, sobretudo na memória e no coração dos sintrenses.